sábado, julho 25, 2009

Lítio

"Estou aterrorizada por este vulto negro
Que dorme dentro de mim;
Durante todo o dia sinto seus leves movimentos plúmeos, sua malignidade"
(Sylvia Plath)
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Ressuscitei em meu pensamento
Depois de mais um comprimido de lítio,
Para aliviar o meu afogamento,
Neste dilúvio de sofrimento.
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Saciei o desejo de sorrir aos pássaros,
Tive meu momento de rutilância constante,
Delirei com o andar vago de meus passos,
Sorvi este sentimento tredo extravagante.
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Só assim iludo a vontade de morrer
A cada minuto de meu amanhecer.
Esqueço que sou suicida!
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O lítio refaz a face esquecida,
Aprisiona o medo
E liberta a vida.
(sel)

domingo, julho 19, 2009

Soneto de Saudade


"Ali amante ditoso,
Delirante,suspiroso,
Eflúvios dele(a) sorvi.
No seu colo eu me deitava...
E ele(a) tão doce cantava!
De amor e canto vivi!"
(Álvares de Azevedo)
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Acordei suada...
Sonhei com você de madrugada.
Sonho louco e gostoso
Nossos corpos entrelaçavam-se.
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Teus olhos nos meus miravam
As peles coladas falavam.
Desejo insano,um fogo
Minha boca seguia teu gozo.
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Beijos libidinosos
Línguas unidas
Cheio de jogos.
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Na doce intensidade
Nossos corpos navegavam
Saciando a chama da saudade!
(sel)

segunda-feira, julho 13, 2009

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo."
(Vinícius de Moraes)
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Na dúvida destilei
meu querer.
Sangrei até morrer
na indecisão de meu ser.
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Querer e não poder.
Poder e não querer.
Não é fácil responder
por aquilo que faz-me sofrer!
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Decido,mas não decido.
É o que deixa-me ferido.
Além daquilo que já era contido.
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Desfazer o que já sei,
talvez,quem sabe não sei.
Qual é minha lei?
(sel)

quarta-feira, julho 08, 2009

Miséria d'alma


"Meu verso é sangue.Volúpia ardente...
Tristeza esparsa...remorso vão...
Dói-me nas veias...Amargo e quente,
Cai,gota a gota,do coração."
(Manuel Bandeira)
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Somam-se o dia e a noite
Num triste olhar desesperado
de quem procura consolo,
para um coração dilacerado.
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Entre sol e lua
Segue cega pela rua
Golpeando rostos e corpos
com sua flecha fria
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Ao vento destila
o mel de tua tristeza,
a embriaguez de tua fraqueza
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No escuro do quarto esconde-se
Entre parede e janela
Vislumbra sua miséria.
.
(Sel)
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E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira)